sábado, 9 de janeiro de 2010

Eu era equilibrada. Juro que tentava parar de balançar os pés debaixo da mesa quando ele chegava perto de mim, mas quem é que consegue calar os pensamentos? Tem gente que não consegue nem calar a boca. Frequentar aquele lugar parecia cada vez mais excitante. Alias, não havia nada que perto dele não fosse fascinante. Ele tornava as coisas mais interessantes. Sempre que eu podia eu olhava em sua direção. Tinha se tornado uma rotina. Eu me desconcertava toda quando ele ficava de pé, pegava um copo de plástico e enchia de café. Aliás, eu sempre achei estranho que café (preto do jeito que é) nunca deixasse bigode, diferente do leite.
Eu não posso beber café puro, só descafeinado. Sempre fui hiperativa, desde que nasci. Tenho um turbilhão de pensamentos e consigo ouvi-los mesmo no centro da cidade, com todas aquelas vozes de diferentes alturas e tons. Acho que por isso escolhi morar num apartamento barulhento, onde posso me distrair de mim mesma, observando a rua e as cores dos carros. Soa até poético, mas não, não é. Eu devo ter perdido algum pedaço de mim no asfalto quando era criança, porque, juro, meus olhos não conseguem se despregar dele quando eu dirijo. Deve ser por isso que me tiraram a carteira de motorista depois da quarta vez que bati o carro.
Mas meu problema era ele. Sabe, eu não sou de reclamar de pequenas coisas. E ele não era pequeno. Ele calçava todos os dias um sapato “All Star” vermelho e observava a todos sem baixar o queixo. E aqueles malditos olhos azuis, sempre muito atento a tudo, analisando tudo e a todos. Mas não julgava. Era o único ali que não julgava.

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